Startups maranhenses conquistam mercados globais e colocam o estado no radar das soluções tecnológicas
O g1 destaca três startups: a Autoclipper, que usa inteligência artificial para criadores de conteúdo; a DAAS – Drone as a Service, que desenvolve tecnolog...

O g1 destaca três startups: a Autoclipper, que usa inteligência artificial para criadores de conteúdo; a DAAS – Drone as a Service, que desenvolve tecnologia de drones para o setor portuário; e a QTM HealthTech Arquivo Pessoal O Maranhão vem ganhando espaço no mapa da inovação brasileira. De acordo com o Observatório Sebrae Startups (2025), o estado abriga 422 startups em 45 municípios, das quais 82,7% são microempresas. O levantamento também mostra que o Nordeste é a segunda região com mais startups do país, à frente do Sul, concentrando 24,7% das empresas inovadoras brasileiras. ✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Maranhão no WhatsApp 🤔 Mas, afinal, o que é uma startup? São empresas inovadoras com potencial de crescimento rápido, que testam soluções, conquistam clientes e buscam expandir seus negócios mesmo em cenários de incerteza. No Maranhão, 34,6% das startups estão na fase de validação — quando o produto mínimo viável (MVP) é testado no mercado. Outras 34,3% permanecem na etapa de ideação, em que a ideia é estruturada. Já 22,5% alcançaram a fase de tração, momento em que conquistam os primeiros clientes e começam a gerar receita, que é um sinal de amadurecimento e potencial de crescimento. Entre os modelos de negócio mais comuns, o destaque é o B2B (Business to Business), no qual a startup vende para outras empresas. Em seguida vem o B2B2C (Business to Business to Consumer), em que o produto é comercializado para uma empresa que o repassa ao consumidor final. Leia abaixo sobre três startups que simbolizam essa virada de chave no estado (clique para navegar): Autoclipper, que usa inteligência artificial para criadores de conteúdo; DAAS – Drone as a Service, que desenvolve tecnologia de drones para o setor portuário; QTM HealthTech, voltada à saúde integrativa e bem-estar. Autoclipper: a IA que transforma vídeos longos em cortes prontos para viralizar A Autoclipper é uma IA que transforma podcasts, lives e entrevistas em cortes curtos prontos para redes sociais Arte g1 MA Criada em 2023 dentro da Aduela Ventures, braço de inovação aberta do Grupo Mirante, a Autoclipper começou como um produto interno, mas, por decisão estratégica, se tornou um produto comercial. A startup é resultado da fusão de projetos liderados por Gerson Diniz (CEO) e Lucas Cleopas (CPO), em parceria com o desenvolvedor Nihey Itakizawa (CTO). A plataforma transforma podcasts, lives e entrevistas em vídeos curtos, prontos para serem compartilhados nas redes sociais. Segundo Gerson Diniz, a ideia surgiu a partir da observação do mercado de infoprodução, especialmente do tempo que os profissionais gastavam para identificar os melhores trechos e reaproveitar conteúdos brutos. “Na prática, a ferramenta da Autoclipper funciona como um assistente de IA. Ela auxilia o social media, o editor de vídeo, o criador de conteúdo na criação de cortes: você coloca um vídeo longo, a inteligência artificial entende os melhores momentos e depois você consegue emtrar em toda jornada de edição para criar o seu corte de conteúdo e depois postar nas redes sociais”, diz Gerson. A Autoclipper é resultado da fusão de projetos liderados por Gerson Diniz (CEO) e Lucas Cleopas (CPO) Arquivo Pessoal O processo é simples: o usuário envia o vídeo, a IA identifica os trechos de maior impacto, aplica cortes, legendas e enquadramentos, e exporta o conteúdo no formato ideal para cada plataforma. O objetivo é reduzir tarefas repetitivas sem substituir a criatividade humana, funcionando como um "braço direito". “Hoje o principal ponto que diferencia a Autoclipper das ferramentas internacionais é o posicionamento para o mercado brasileiro e principalmente esse olhar de combater conteúdos robotizados e criados 100% por IA. A gente acredita que o futuro da comunicação é o mercado de criação de conteúdo", afirma Gerson. Gerson afirma que a Autoclipper deve expandir para novos mercados, com a inclusão de outros idiomas, acompanhando o movimento orgânico de internacionalização da marca. Para ele, o que impulsiona o surgimento de ideias inovadoras no estado é justamente o cenário de escassez. As limitações históricas do Maranhão, segundo o empreendedor, acabam estimulando a criatividade e o pensamento disruptivo. "A gente tem uma tese dentro de startups de inovação de que o cenário escasso aflora a criatividade. Existem negócios atípicos, muito específicos que nascem no Nordeste -- e que não apareciam em lugares com fartura de capital", conta. No estado, esse avanço é impulsionado por programas como o Startup Nordeste, da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), além de hubs e aceleradoras locais, como a Aduela Ventures. 'Aduela Day' atrai criadores de startups, em São Luís DAAS: drones que medem navios sem expor trabalhadores aos riscos A inovação tecnológica também chegou aos portos. Criada no Maranhão, a DAAS – Drones as a Service desenvolveu uma solução que usa drones para medir o nível de carga dos navios, processo conhecido como arqueação ou draft survey. Testada no Complexo Portuário do Itaqui, 4º maior porto público do Brasil, a tecnologia promete mais segurança, agilidade e sustentabilidade nas operações. “A DAAS oferece um serviço de arqueação de navios graneleiros por meio de drones equipados com câmeras de alta precisão e sistemas de visão computacional”, explica Daniel Pereira, oceanógrafo e cofundador da startup. Método tradicional de arqueação: leitura de calado usando lancha (à esquerda) / Algoritmo de leitura automática do calado do navio (à direita) Initial plugin text Tradicionalmente, a leitura do calado – que indica quanto o navio está submerso e, portanto, o peso da carga – exige que um profissional se desloque de lancha até o costado do navio para fazer a medição manual. Segundo Daniel Pereira, que também é presidente do Sindicato dos Operadores Portuários do Maranhão (SINDOMAR) e especialista em inovação e logística há mais de dez anos, esse processo é demorado, sujeito a falhas e expõe trabalhadores a riscos físicos. Com a tecnologia criada pela startup, essa medição é feita de forma remota, por meio de drones que captam as imagens e enviam os dados com alta precisão. “Nos primeiros testes, tivemos erro inferior a 1 centímetro. Mesmo sem a aplicação do algoritmo de deep learning, já conseguimos uma medição mais segura, rápida e sustentável, reduzindo custos operacionais e tempo de espera nas operações portuárias.”, destaca Daniel. Criada no Maranhão, a DAAS – Drones as a Service desenvolveu uma solução que usa drones para medir o nível de carga dos navios Arquivo Pessoal O drone da DAAS foi adaptado especialmente para operações marítimas. Ele é equipado com câmeras de alta precisão e um sistema de estabilização que garante imagens nítidas, mesmo com o movimento das ondas. O software consegue identificar automaticamente as marcas de calado, ou seja, as indicações do quanto o navio está submerso, mesmo em condições difíceis, como águas agitadas ou pouca visibilidade. De acordo com Daniel, os ganhos são diretos e mensuráveis: Redução do risco ocupacional, ao eliminar o deslocamento de profissionais em embarcações de apoio; Menor tempo de operação, otimizando o uso do berço e reduzindo o consumo energético dos navios em espera; Redução da pegada de carbono, já que as lanchas utilizam diesel S10, com fator de emissão entre 3,3 e 3,6 kg de CO₂ por litro; Maior rastreabilidade. Ainda segundo ele, o uso dos drones reduziu o tempo de medição de carga de 60 para 20 minutos e diminuiu pela metade o risco de acidentes nas operações portuárias. O projeto conta com apoio da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) — que colabora no desenvolvimento dos modelos de IA — e da Fapema/SECTI, por meio do Inova Maranhão. A DAAS também negocia projetos-piloto com empresas da China e de Moçambique. Segundo Daniel, criar a startup no Maranhão tem um peso simbólico, pois o estado reúne uma das maiores infraestruturas portuárias do país, mas ainda busca se consolidar como polo tecnológico. “Temos muitos problemas no quesito socioeconômico, porém ao criar uma tecnologia de ponta aqui, mostramos que o Maranhão não é apenas um ponto de escoamento, mas também um laboratório de inovação portuária, capaz de exportar conhecimento e tecnologia para o mundo, exportando talentos, não apenas comodities", afirma. Startups maranhenses investem em Inteligência Artificial para criar soluções tecnológicas QTM HealthTech: tecnologia que leva terapias ao alcance de todos Criada durante a pandemia, a QTM HealthTech nasceu com o objetivo de unir tecnologia e bem-estar, aproximando pessoas de terapias naturais e acessíveis. A startup maranhense desenvolveu uma plataforma que conecta terapeutas, pacientes e centros de terapia integrativa, já que na época da pandemia o setor era muito fragmentado, com profissionais sem estrutura para atender, pacientes com dificuldade para agendar consultas e centros de terapia com pouca visibilidade. “A QTM nasce em 2020, quando o sistema de saúde estava sobrecarregado e as pessoas buscavam soluções naturais, acessíveis e menos invasivas”, explica Juliana de Santos Nogueira, cofundadora da empresa. Fundada em 2020, durante a pandemia, a QTM HealthTech conecta terapeutas, pacientes e centros de terapia por meio da tecnologia Arquivo Pessoal Juliana é formada em Ciências Sociais, mestre em Preservação do Patrimônio Cultural pelo IPHAN, mestre em Cultura e Sociedade pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e doutoranda no mesmo programa. Além de pesquisadora, ela também atua como terapeuta de práticas integrativas e empreendedora, sendo fundadora da Gamezônia. A QTM tem foco nas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), reconhecidas pelo SUS, e busca ampliar acesso, integração e cuidado preventivo. Segundo o Ministério da Saúde, as PICS são terapias que ajudam a prevenir doenças e promover o bem-estar. Elas valorizam a escuta acolhedora, o vínculo entre paciente e terapeuta e a conexão com o meio ambiente e a comunidade. Segundo Juliana, quem empreende no Maranhão precisa olhar além das fronteiras do estado. Ela defende que é essencial pensar grande e buscar conexões que permitam às ideias locais crescer e alcançar novos mercados. "Meu conselho para quem empreende no Maranhão é: pense global desde o início. Internacionalizar não é sair do Brasil, é ampliar as possibilidades de impacto. Em muitos países, o ecossistema de inovação está mais maduro, há mercados mais estruturados, moedas mais fortes e regulamentações favoráveis às startups. Isso abre espaço para parcerias, validações e investimentos que podem acelerar o crescimento do negócio", diz a empreendedora. Media for Equity: quando a mídia impulsiona startups rumo ao mercado Ideias inovadoras ganham o apoio da Aduela Ventures A Aduela Ventures, empresa de tecnologia que integra o hall de negócios do Grupo Mirante, aposta em um modelo ainda pouco comum no Brasil, mas em expansão no ecossistema de inovação: o Media for Equity. Nesse formato, em vez de investir dinheiro, a empresa oferece mídia e visibilidade em troca de participação, com campanhas em TV, rádio, portais de notícia e redes sociais. De acordo com Bruno Nogueira, diretor de Operações da Aduela Ventures, esse modelo é especialmente útil para startups em fase de tração. Nessa etapa, a visibilidade pode ser mais valiosa do que o investimento financeiro. “As startups, assim que lançam o produto no mercado, precisam validar o público-alvo e a solução. Para isso, é preciso expandir a base de clientes para ir ajustando a plataforma e a necessidade do mercado. Nesse momento, o investimento e o acesso a canais de divulgação são mais importantes do que o aporte financeiro, pois possibilitam à startup obter essa validação e posterior expansão do número de clientes”, diz o diretor. Além de explicar o funcionamento do modelo, Bruno deixa um conselho para quem inicia no empreendedorismo. Para ele, mais importante do que criar uma solução é identificar um problema real, com relevância e potencial de escala. “Para iniciar uma startup, você precisa, antes de pensar em uma solução, achar um problema que valha a pena ser resolvido, ou seja, que o público-alvo tenha uma dor ou necessidade forte o suficiente para pagar por uma solução e que o mercado em que for ser inserido seja grande nacionalmente e internacionalmente, para que seu produto possa ter escala”, diz Bruno. Como formatar um novo negócio - startup. g1